Moçambique on-line

mediaFAX de 22 de Novembro 2002

1. Confirmado pagamento de Nhympine a Nini
2. Nini tal como consta na acta
3. Fuga de Anibalzinho: Resultados de inquéritos no segredo dos deuses
4. Editorial: UM HEROI NÃO DECRETADO
5. Culpados devem ser condenados, defende Pascoal Mocumbi
6. SEMANA DE CARLOS CARDOSO

Cheques da Expresso Tours, assinados pelo filho do PR, foram apresentados ao Tribunal
Confirmado pagamento de Nhympine a Nini

(Maputo) O Tribunal que julga o processo do assassinato do jornalista Carlos Cardoso confirmou ontem que os cheques apresentados por Nini anteontem, como documentos de prova, são da Expresso Tours, uma empresa ligada ao filho do Presidente da República. O juiz do caso descreve os cheques. Neles constam a assinatura de Nhympine Chissano. Na acta da audiência ficou registado que as assinaturas era ilegíveis, mas Simão Cuamba, advogado de Anibalzinho, disse que "pelo menos consegue-se ver o nome Chissano".

E o advogado de Ayob Satar, Domingos Arouca, afirmou que "eu que não vejo bem consigo ler a assinatura". Os cheques foram apresentados por Nini como prova da sua inocência relativamente ao pagamentos que diz ter efectuado a Anibalzinho. Ontem, Nini disse ao Tribunal que só soube em Novembro de 2001, através de Anibalzinho, que os pagamentos tinham a ver com o assassinato de Carlos Cardoso.

Ele havia apresentado 7 cheques, mas depois conseguiu fazer com que o Tribunal só ficasse com quatro. A explicação para este facto não foi muito clara, mas Nini terá indicado a membros da sua família para levarem de volta três dos cheques.

Os quatro cheques apresentados são todos da Credicoop e têm o mesmo valor facial:165 milhões de Meticais. O primeiro é datado de 23 de Novembro de 2002, um dia depois do assassinato do jornalista, o segundo é de 30 de Novembro, o terceiro de 22 de Dezembro e o quatro de 30 de Dezembro do mesmo ano.

Recorde-se, a explicação dada por Nini para que Nhympine lhe passasse o tais cheques foi a seguinte: Nhympine pediu-lhe 1200 milhões de Mts; Nini disse que sim, mas como garantia de reembolso o filho do PR tinha de passar cheques; Nini recebeu depois instruções de Nhympine para não lhe entregar pessoalmente os 1200 milhões de Mts, mas fazer pagamentos parciais a Anibalzinho.

Isto é o que Nini diz e poderá, segundo fontes do mediaFAX, não avançar mais nenhum detalhe sobre os cheques quando voltar a ser interrogado na segunda feira a esse respeito. Se isso acontecer, então o assunto dos cheques poderá não ter clarificação. Ontem, o Tribunal não interrogou Nini sobre os cheques pois o réu declarou que já não se sentia em condições para tal. "Sinto-me enjoado", disse ele depois de ter estado na casa de banho.

Algumas correntes de opinião apontam que seria de extrema utilidade se Nhympine Chissano se apresentasse ao Tribunal para depor a respeito dos cheques. Mas há quem diga que, dado que o julgamento está a ser transmitido em directo, Nhympine poderá evitar expor-se demasiado, optando por responder sobre o assunto no processo autónomo que lhe foi movido. A sessão de segunda feira vai continuar com o interrogatório a Nini, seguindo-se depois os réus Vicente Ramaya e Carlitos Rachid.
(M.M.)

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Nini tal como consta na acta

(Maputo) O mediaFAX registou ontem algumas passagens do que passou a constar nos autos de discussão e produção de prova na sequência do interrogatório ao arguido Nini. Eis algumas passagens:

Sobre os Procuradores: "Respondeu que durante os seus contactos com os Procuradores falava regularmente com os Drs Duarte, Rui Seuane, Diamantino e Mutisse, então Procurador da Cidade de Maputo. Falava regularmente ao telefone ou directamente no seu local de trabalho e que, além desse relacionamento, não tinha com aqueles relacionamento de amizade".

Sobre os Nhympine e os pagamentos a Anibalzinho: "Respondeu que conheceu Nhympine Chissano através de Maria Cândida Cossa, e que tinha uma relação comercial com Nhympine. Que é comerciante sem estar matriculado, sem pagar impostos (...). Respondeu ter relações comerciais com Nyimpine Chissano e recorda-se de ter tratado com este por duas vezes para trocar dinheiro. Respondeu ainda que tinha muita confiança comercial com Anibalzinho, que falavam sempre telefonicamente. Respondeu que no dia que se encontrou com Anibalzinho, no BIM, para lhe entregar dinheiro, estava acompanhado de um guarda doméstico. Neste pagamento não houve qualquer documento".

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Fuga de Anibalzinho:
Resultados de inquéritos no segredo dos deuses

(Maputo) O Comandante Geral da PRM (Polícia da República de Moçambique), Miguel dos Santos, revelou ontem ao mediaFAX que o inquérito policial à volta da fuga de Anibalzinho já foi concluído, porém os respectivos resultados ainda não foram entregues ao Ministério Público ou ao Tribunal.

Dos Santos, que escusou-se a revelar o teor dos resultados do aludido inquérito (alegou segredo de justiça) bem como as razões da sua não entrega àquelas instituições de administração da Justiça, apenas afirmou que brevemente seriam publicados e entregues às instituições competentes. Quando é que não disse.

O Ministério Público é outra instituição que também moveu inquérito à volta da fuga de Anibalzinho. Há semanas o Procurador Geral da República, Joaquim Madeira, garantiu por seu turno ao mediaFAX que o trabalho já estava concluído.

Ontem tentámos saber em que ponto de situação o assunto estava, facto que resultou fracassado por não encontrarmos pessoa autorizada para nos prestar alguns esclarecimentos à volta do caso. Também não conseguimos contacto telefónico com Dr. Madeira, pois das vezes que o tentámos, tinha o seu telefone móvel desligado.
(J.C.)

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Editorial
UM HEROI NÃO DECRETADO

Dois anos depois, quem duvida que Carlos Cardoso é o último herói da nossa moçambicanidade? Um herói não decretado, que aconteceu por força da sua dimensão moral, do seu apego à causa do povo, da sua abnegada defesa do bem público, da luta contra as mentiras por debaixo do verniz oficial. Dois anos depois, que mais dizer, agora que o julgamento desteceu algumas teias obscuras da nossa sociedade? (Os factos estão a falar por si, e o feitiço parece virar-se contra o feiticeiro). Cardoso tornou-se num homem do povo, num estadista cujo partido é a verdade e a justiça, a honestidade e a decência. Um exemplo de que os heróis não se decretam; acontecem na sequência da sua obra.

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Culpados devem ser condenados
defende Pascoal Mocumbi

(Maputo) O PM, Pascoal Mocumbi, defende que o julgamento do "caso Cardoso" está a decorrer da "melhor maneira". Falando ontem à margem do seu habitual briefing semanal à comunicação social, Mocumbi disse à jornalistas que o seu desejo era que o julgamento fosse célere e que os culpados fossem provados e condenados, incluindo os mandantes, doa a quem doer. Quanto à recuperação da credibilidade do sistema de Justiça no país, que nos últimos tempos não inspira confiança aos cidadãos, Mocumbi defende que tudo depende do comportamento da máquina judicial na sua actuação para merecer ou não a confiança dos cidadãos.
(J.C.)

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SEMANA DE CARLOS CARDOSO

(Maputo) A passagem do segundo aniversário do assassinato do jornalista CC tem hoje o ponto central, começando as 10 da manhã com o descerramento da placa na rua que passará a ostentar o nome Carlos Cardoso, na zona da Polana Caniço, seguindo-se do plantio de árvores nessa mesma rua. Pelas 12 horas, será inaugurada no SNJ uma mostra de pintura e escultura intitulada Liberdade. Seguir-se-á o lançamento de um prémio de jornalismo investigativo, patrocinado pela União Europeia.

Entre as 15 e as 17h30, duas palestras vão ter lugar também na sede do SNJ. O primeiro palestrante será Aurélio Rocha, que falará sobre o tema "Trabalho e Formação: Factores de Construção da Cidadania", e Kebobad Patel, que abordará o tema "Desenvolvimento Nacional e Governação Democrática: O Caso do Caju".

Pelas 18 horas de sexta-feira, haverá deposição de flores no local do assassinato e pelas 19 horas, na Associação Moçambicana de Fotografia, projectar-se-ão slides de pinturas de Carlos Cardoso, assim como será lançado um livro com obras plásticas da sua verve. No sábado, dia 23, será disputada a Taça Carlos Cardoso em Polo Aquático, na piscina do Desportivo de Maputo.
(da redacção)

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Moçambique on-line - 2002

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