Moçambique on-line

mediaFAX de 5 de Dezembro 2002

1. Os interesses da Belle Beach
2. As ligações empresariais dos filhos de Chissano
3. Dudu confirma: os alvos eram o "saloio" (Albano Silva) e o "incómodo"


Os interesses da Belle Beach

(Maputo) A Belle Beach Holdings (BBH), proprietária da Expresso Tours, tem uma séria de negócios em carteira, planos de investimento na indústria do turismo. A BBH adquiriu a "Expresso Tours Lda", há poucos anos ao preço de 1,3 milhões de USD. Esta agência de viagens actua em excursões (fundamentalmente para a RAS), aluguer de viaturas (tem quase o exclusivo de fornecimento de viaturas a conferências internacionais envolvendo o Governo), tem na Praia do Bilene seis apartamentos e estava há bem pouco tempo a construir 40 bangalós, um restaurante e outras estruturas.

A sociedade, onde são parceiros Nyimpine Chissano, Apolinário Pateguana, Teeren Appasamy (um cidadão mauriciano; Belle Beach é também nome de um complexo turístico em Gaza), N'naite Chissano e Egas Mussanhane, adquiriu 6 hectares nas barreiras da Maxaquene para construção de 40 apartamentos, tem uma cota para 400 toneladas de camarão e 120 de peixe, tem 200 hectares de terra em Vilankulo para construir um hotel de luxo e tem planos para mais um hotel em cabo de São Sebastião (perto de Vilankulo), onde o Ministro John Kachamila, em parceria com empresários sul africanos, tem interesses que conflituam com os da população local.

A BBH possui ainda um plano para um hotel de luxo na Ponta do Ouro, um outro para um Centro de Conferências em Maputo, mais hotel e Centro Comercial (recorde-se que no ano passado, uma porção de terra em frente do Ministério da Defesa, em Maputo, havia sido vedada para obras; as nossas fontes dizem que se tratava de mais um investimento ligado a Nyimpine Chissano). Há o registo de a Belle Beach possuir igualmente 2 hectares de terra com vista para o mar destinados à construção de apartamentos de luxo, havendo igualmente intenções de construção de uma fábrica de papel higiénico em Maputo.
(M.M.)

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As ligações empresariais dos filhos de Chissano

(Maputo) Para além da Tristar Car Rental, onde os dois filho do PR são sócios de Apolinário Pateguana (há o registo de uma Tristar Trading em formação), Nyimpine e N´naite estão ligados a uma série de figuras nos seus interesses empresariais. Os dois são sócios na M.C.M. Investimentos Ltda, uma empresa que estava ligada aos filhos do primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Chivambo Mondlane, nomeadamente Nyleleti e Eduardo Mondlane Junior.

Em 1997, Nyeleti Brook Mondlane cedeu a Nyimpine Joaquim Chissano uma quota de 3 milhões de Mts. Por sua vez, Eduardo Chivambo Mondlane Júnior cedeu a Nyimpine Joaquim Chissano uma quota de 2 milhões de Mts. Também Pedro Jeremias Manjate, companheiro de Nyeleti e amigo de Nyimpine (ele é testemunha de Nyimpine no processo de difamação que o filho do PR moveu contra o antigo jornal Metical), cedeu a Nyimpine Joaquim Chissano uma quota de 5 milhões de Mts. Assim, Nyimpine, que já possuía acções neste empresa, passou a ter na sociedade uma quota de 20 milhões de Mts (50% do capital social).

Existe igualmente a Enfo Consultores Ltda, mas aqui Nyimpine não entra. São sócios N'Naite Chissano, Egídio José de Fausto Leite, Carlos Roberto Fehlberg Pereira, Julião Pondeca (um dos admnistradores da Electricidade de Moçambique e PCA da Motraco, a empresa que fornece energia eléctrica à Mozal) e Oliver Tandane. No CD-ROM produzido pela Pandora Box sobre as sociedades comerciais, de nome HERMES (um utilíssimo instrumento de pesquisa, passe a publicidade) constam várias referências a entidades onde Nympine é sócio. Consta a GMI Motors (onde faz sociedade com Florência Infante, Gerard Worth, José Marcelino Zacarias) e a Sotux. Segue-se a MM Trading Limitada, onde, para além de Nyimpine, são sócios Nyeleti Mondlane e a Jezy, Sociedade de Participações e Consultoria. Ainda não conseguimos saber de que é a Jezy.

A SOTUX é uma Sociedade Internacional de Comércio de Bens, do empresário Álvaro Massingue. O mediaFAX sabe que Massingue está ligado a um novo projecto de ensino superior privado em Moçambique, que funcionará nas instalações onde o ISPU deu os primeiros passos.

Existe igualmente a Locomotivas Económicas (esta empresa chegou a comprar o caderno de encargos na primeira fase do concurso público para o segundo operador de telefonia móvel em Moçambique, mas terá desistido). Nas Locomotivas, Nyimpine Chissano é sócio de Octávio Filiano Muthemba, que deverá ser ouvido amanhã no Tribunal que julga o caso Carlos Cardoso, na qualidade de declarante, mas fundamentalmente porque foi citado como tendo sido um dos alegados mandantes.

Para além de Muthemba, os restantes sócios de Nyimpine são: Casimiro Huate, deputado da AR pela Frelimo, PCA do Fundo de Fomento Ambiental, Elias Zimba, João Baptista Colaço Jamal, Nyeleti Mondlane, Samora Moisés Machel Júnior, Vicente Veloso, PCA da Electricidade de Moçambique, Manuesse Mocumbi, parente do Primeiro Ministro, Julião Pondeca e José Zumbire, Director do Serviço de Informação e Segurança do Estado. O objecto social desta organização vai deste a exploração de recursos naturais até o agenciamento de viagens, passando pela incontornável importação de bens de consumo, etc.

Nyimpine não se fica por aqui, dado que é igualmente sócio da Djabule Trading Company, juntamente com um cidadão de nome Julius Seffgu, virada para o transporte de carga e passageiros, entre outros. Existe ainda a Rovuma Internacional, onde Nyimpine é sócio juntamente com Kai Crooks Chissano, sua mulher de casamento, de ascendência jamaicana, de quem está entretanto separado. A Rovuma Internacional foi registada para se dedicar ao comércio internacional de bens e serviços e ao agenciamento. Segue-se a Ponta Tripla, com Omaia Salimo e Maria Nhaguinombe João, vocacionada a participações sociais.
(M.M.)

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Dudu confirma
Os alvos eram o "saloio" (Albano Silva) e o "incómodo"

(Maputo) A testemunha da acusação no caso do assassinato do jornalista Carlos Cardoso, Osvaldo Muianga, mais conhecido por Dudu, confirmou na terça feira a ligação entre os alegados autores materiais (sobretudo Anibalzinho) e os morais do assassinato do jornalista.

Essencialmente, Dudu confirmou terem havido reuniões no Hotel Rovuma, onde alguns dos réus conversaram sobre a falhanço do atentado ao advogado Albano Silva, em Novembro de 1999, e estabeleceram-no novamente como alvo a abater.

Dudu disse ter visto nessas reuniões os réus Anibalzinho, Nini, Ayob Satar e Vicente Ramaya. Ao confirmar essas reuniões, Dudu da fundamento à teoria de que os réus tinham aquilo a que se chama de "desígnio criminoso".

A testemunha confirmou ter sido portadora de pagamentos de Nini a Anibalzinho para os preparativos do assassinato do advogado, que era tratado como "saloio". "Fui buscar ao Nini 100 milhões de Meticais para pagar a Anibalzinho", contou ele. Mais tarde, ele recebeu um telefonema de Nini a pedir para informar a Anibalzinho de que a operação tinha de ficar cancelada "porque não era oportuna".

Dudu prestou esta informação a Anibalzinho, que terá reagido com desagrado. Ele explicou que nas reuniões do Rovuma não houve qualquer menção ao nome de Carlos Cardoso, mas contou semanas depois da ordem para o cancelamento do assassinato de Albano Silva ouvir uma conversa entre Nini e Anibalzinho, ao telefone, onde falavam do "incómodo". "Até cheguei a pensar que o incómodo era eu dado que eu conhecia dos planos de assassinato do advogado. Falavam de um incomódo".

Esta referência parece ser importante na medida em que, se os réus tratavam Albano Silva por "salaio", então "incómodo" tinha de ser outra pessoa, alguém que os incomodava de facto. Caberá ao tribunal determinar se esse "íncomodo" era Carlos Cardoso. A motivação do crime, tal como consta na acusação, leva para aí.

Na audição de terça feira, Dudu foi "bombardeado" pelos advogados de defesa, principalmente por Gani Hassane (que defende Ramaya) e Eduardo Jorge (que defende Nini), que optaram pela via da descredibilização da testemunha. Um outro advogado, Domingos Arouca (que defende Ayob Satar) chegou a pedir a nulidade do depoimento da testemunha considerando que ela admitiu ter participado nas reuniões. Mas Arouca exigiu essa nulidade depois de a testemunha ter sido interrogada pela acusação. De acordo com parecer fornecido ao mediaFAX, a exigência da nulidade tinha de ter sido feita antes da testemunha depor.
(da redacção)

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Moçambique on-line - 2002

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