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Artigo do metical de 25 de Julho


Metalo-mecânicas aderem, enfermeiros não, e professores hesitam

(Maputo) Do ramo metalo-mecânico, 35 empresas privadas vão aderir à greve geral. Isto foi anunciado ontem pelos secretários dos 35 comités sindicais locais que estiveram reunidos com a OTM.

Em nenhuma das 35 empresas vigora o salário mínimo. E pelo menos duas tiveram aumentos depois de anunciada a intenção de greve geral. Mesmo estes aumentos foram a partir de salários que já eram acima do mínimo. Apesar disto, e mesmo que os patrões descontem três dias no salário de Julho, os trabalhadores decidiram aderir à greve.

A ameaça de desconto de três dias de salário não aconteceu em todas as metalo-mecânicas. Aos representantes sindicais foi recomendado que argumentassem junto dos respectivos patrões que tais descontos seriam ilegais pois a greve geral é legal.

Os trabalhadores da Mozal, cujo salário mínimo é pelo menos três vezes superior ao mínimo nacional, informaram o respectivo sindicato de que também aderem à greve, em solidariedade. O secretariado sindical do ramo metalo-mecânico recebeu ontem telefonemas de gente a informar que os funcionários sul africanos da Mozal tencionavam ir para a RAS antes da greve, alegadamente por temerem distúrbios.

Neste encontro sindical de ontem, os dirigentes da OTM apelaram aos trabalhadores para não confiarem na imprensa pois está a haver desinformação veiculada por alguns jornais.

Trabalhadores da Migração, afectos à fronteira de Ressano Garcia, prometeram aderir à greve geral, segundo disse ao “mt” uma senhora que regularmente vai à África de Sul tratar de negócios. Ela diz que, ao atravessar a fronteira no último sábado, “os funcionários da Migração disseram-me que não valia a pena viajar antes do próximo sábado porque a fronteira estará fechada”.

Ontem contactámos a chefe dos Recursos Humanos da Direcção Nacional de Migração que nos disse que a sua instituição não irá aderir à greve. Ela não quis comentar as alegadas declarações dos funcionários da fronteira, argumentando que não era a pessoa indicada.

PROFESSORES
Na classe dos professores parece estar a haver um diferendo entre as bases e a direcção do respectivo sindicato (o SNPM). Emília Afonso, SG do SNPM, eleita na conferência de Chimoio este mês, reiterou aquilo que o Presidente do sindicato, José Pascoal Zandamela, subscreveu em comunicado, nomeadamente que “o SNPM não subscreve a greve, não obstante estar solidário com os trabalhadores”.

Ontem à tarde, uma das vice-presidentes do SNPM, Raquel Damião, disse-nos que “eu estive na sessão do Comité Central. Apareceu um documento que eu assinei”. Ela referia-se ao documento da presidência do sindicato a dizer que não aderia à greve.

O SG cessante, Domingos Ferrão, subscreveu, na quinta-feira, junto do forum de concertação sindical, um compromisso de adesão à greve. Mas, segundo ele, fê-lo provisoriamente pois a última palavra pertencia à presidência do sindicato. Fontes do SNPM disseram-nos que esta decisão de não aderir não parte de nenhuma reunião dos órgãos centrais do sindicato. Adicionalmente, os nossos contactos com professores indiciam uma vontade forte da parte deles de aderirem à greve. De Gaza, recebemos a informação de que os professores se preparavam para ficar em casa a partir de amanhã mas que o comunicado assinado por Zandamela e pelas duas vice-presidentes tinha instalado a dúvida sobre o curso a seguir.

O “mt” possui cópia de um outro comunicado, assinado pela duas vice-presidentes, no qual elas dizem que não reconhecem o recém-releito secretariado e convocam o “Congresso Extraordinário a ser realizado ainda este ano”. Zandamela reconhece o novo secretariado.

Ontem ouvimos a secretária provincial do SNPM em Gaza, Gilda da Glória, sobre este diferendo. Ela disse-nos que as duas vices “estão livres de apresentar o seu sentimento. A primeira vice-presidente (Raquel Damião) recebeu o bilhete de avião e não viajou para Chimoio, e as pessoas ficaram à espera dela. Esta posição fere os membros do Conselho Nacional do SNPM. O Conselho dissolveu o secretariado cessante e elegeu outro. Nós estamos num país democrático”.

ENFERMEIROS
O vice-presidente da associação dos enfermeiros (Anemo), Albino Maheche, disse-nos que “nós não vamos aderir à greve geral”. Ele esclareceu que uma das razões foi a de que “não tivemos uma comunicação atempada para nos organizarmos, dada a área muito sensível da saúde. Devíamos preparar equipas para assegurar o mínimo funcionamento de serviços para que não haja perdas de vidas humanas”.

Por outro lado, ele observou que não queria que se repetisse aquilo que “aconteceu em 1990, quando da greve dos enfermeiros. Devemos respeitar a vida humana que é o fundamento da nossa presença no hospital”.

Por último, disse-nos que “nós solidarizamo-nos por esta frente de combate dos direitos do trabalhador, pois nós também somos trabalhadores. E sabemos que temos lacunas nos nossos salários. O pessoal de enfermagem ganha muito mal”.

Mas insistiu que “ir para a greve emocionalmente não é oportuno. É preciso que a greve seja preparada”.

Maheche recordou que “nós somos uma associação não filiada na OTM. O Forum da Concertação Sindical organizou encontros ao nível do país, mas nunca nos contactou para uma abordagem para esta questão de greve”. (recolha por Zacarias Couto)


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