Moçambique on-line

mediaFAX de 26 de Novembro 2002

1. Confirmada acusação de autoria material
2. Rachid, o atirador confesso
3. Nyimpine pela terceira vez
4. Rachid acusa mãe de Anibalzinho
5. Renamo quer Nyimpine sob prisão preventiva

Confirmada acusação de autoria material

O Tribunal já tem três culpados de assassinato material de CC, nomeadamente Manuel Escurinho, Carlitos Rachid e Anibalzinho. Dois confessaram e o terceiro fugiu depois de conhecer a acusação

(Maputo) A acusação de autoria material do assassinato do jornalista Carlos Cardoso deu ontem um passo gigantesco com a confissão do réu Carlitos Rachid, que confirmou ter sido o autor dos disparos de uma AK47 de assalto que roubou a vida ao antigo editor do jornal Metical. Recorde-se que a acusação de autoria material aponta como autores os réus Carlitos, Anibalzinho, Manuel Escurinho e Momad Assif, vulgo Nini.

O co-réu Manuel Escurinho já havia confessado na semana passada a sua participação na operação; o facto de Anibalzinho ter fugido da justiça depois de saber dos factos de que é acusado fazem dele culpado; o único acusado de autoria material que não confessou foi Nini. Ele negou os factos constantes do despacho de pronúncia segundo os quais foi ele quem transportou a arma do crime para a viatura VW Citi Golf, na qual seguiam Anibalzinho e Escurinho em direcção do jornal Metical no dia do crime. Nini também pode ter beneficiado do depoimento de Escurinho, que negou que a mochila com a arma do crime tivesse sido trazida por aquele; Escurinho, recorde-se, disse que a arma já vinha na viatura com Anibalzinho, numa pasta militar. Resta saber se a acusação tem testemunhas para contrariar o depoimento de Escurinho inocentando Nini de autoria material.

Com a confissão de Rachid, o Tribunal deu um passo gigantesco para a clarificação do crime. A confissão de réus em processo crime facilita o trabalho de produção de prova. A confissão reduz, por exemplo, o imperativo de a acusação apresentar testemunhas. O Tribunal deverá concentrar-se agora na questão da autoria moral do crime, para o que são acusados Momad Assif, Vicente Ramaya e Ayob Satar. Momad Assif já fez uma confissão parcial, nomeadamente a de que fez pagamentos a Anibalzinho, os quais mais tarde veio saber, alegadamente, tratar-se de pagamentos pelo assassínio de CC. Ele apresentou cheques para mostrar a sua inocência, mas não conseguiu estabelecer uma relação clara entre esses cheques, passados por Nyimpine, e o assassinato de CC.

De acordo com um parecer jurídico que recebemos, continua a caber a Nini, sobretudo depois de confessar os pagamentos a Anibalzinho, o ónus de prova da sua posição de intermediário.

Quanto a Ayob Satar, ele negou todas a acusações que foram feitas na pronúncia e as ligações que lhe levaram a ser acusado de autoria moral. Hoje, o Tribunal vai interrogar o quinto réu, Vicente Ramaya, antigo gerente do balcão da Sommerschield do ex-BCM. Parece cada vez mais claro que o Tribunal deverá socorrer-se de testemunhas para tentar provar o envolvimento de Ayob Satar e Ramaya no crime. Duas das testemunhas-chave nesse sentido são Dudu (que estabelece a ligação entre os autores morais e materiais) e Rohit Kumar, que revelou ter sido contactado pelo irmãos Satar, 18 meses antes do crime, para encontrar alguém para assassinar CC.
(Marcelo Mosse)

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Rachid, o atirador confesso

(Maputo) Carlos Rachid, um dos seis acusados de assassinato de CC confessou ontem ter sido o autor dos disparos que vitimaram o antigo editor do "Metical". Rachid, mais conhecido por "Carlitos", confessou ao Tribunal ter disparado cinco tiros contra Carlos Cardoso, isto depois de ter sido alegadamente ameaçado de morte por "Anibalzinho", no momento da operação, caso ele não disparasse.

Ele fez uma descrição do crime mais ou menos coincidente com aquela que tinha sido feita por Manuel Escurinho. De acordo Rachid, no dia 22 de Novembro, Anibalzinho encontrou-o por volta das 15h30 nas imediações do Metical tal como haviam combinado. "Ele veio com o Manuel Escurinho. A ideia inicial era vir o Miguel Chamusse. Quando chegaram ao local, o Escurinho saltou para o banco de trás e eu fiquei no banco de frente".

De acordo com o réu, a operação tinha sido preparada entre ele, Anibalzinho e Miguel Chamusse (para o público este é um nome novo no processo). Rachid diz ter ficado, por isso, espantado ao ver Escurinho na viatura, embora ele já o conhecesse das bandas do Alto Maé. Anibalzinho ter-lhe-á explicado que Escurinho tinha concordado em participar no lugar de Chamusse.

A viatura era um VW Citi Golf conduzida pelo réu em fuga. Rachid contou que os três dirigiram-se ao autódromo da Costa do Sol, onde Anibalzinho pediu para que ele testasse a AK 47. "Disparei um tiro, a arma já estava manipulada e em condições para a operação", disse, enfatizando que o que ele contava era a versão verdadeira e que tudo o que constava dos autos era mentira.

"Quando regressamos ao Metical vimos o Carlos Cardoso a conversar com uma senhora branca. Ele entrou depois nas instalações e saiu quinze minutos depois. Aí perseguimos o seu carro. Minutos depois o Anibalzinho disparou um tiro da sua pistola Makarov. O motorista do Carlos Cardoso parou o carro e eu vi o jornalista a levantar o pescoço. Aí eu, que já estava com a arma preparada para disparar, comecei a hesitar. Comecei a sentir pena, até porque o Carlos Cardoso já me tinha vendido uns jornais à crédito. Mas o Anibalzinho colocou a sua Makarov no meu pescoço e ameaçou matar-me se eu não disparasse. Foi tudo rápido. Recordo-me de ter disparado 5 tiros".

O Tribunal não insistiu muito nos detalhes que entremearam o bloqueio da viatura de CC e a fuga dos réus depois do crime. O percurso por eles seguido foi o mesmo descrito por Manuel Escurinho: Mártires da Machava, a avenida onde ficava o Metical, Julius Nyerere, 24 de Julho, Ahmed Sekou Touré até a zona da Bota Alta, onde ele, Rachid e Escurinho foram deixados.

Rachid revelou ainda que CC podia ter sido assassinado antes da data de 22 de Novembro. "Por cerca de 10 vezes nós falhamos. Às vezes ficávamos à espera dele no Metical e apanhávamos sono. Quando acordávamos ele já tinha ido embora. Outra vez perseguimo-lo até à casa, mas na zona havia muitos 'cizentinhos' e desistimos". 'Cinzentinho' é uma alusão à Polícial civil moçambicana, cuja farda é de cor cinzenta. Quando a advogada Lucinda Cruz pediu que Carlitos indicasse onde se localizava a casa de CC, ele explicou correctamente.
(M.M.)

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Nyimpine pela terceira vez

Carlisto Rachid contou que o antigo DG das Alfândegas, Pedro Bule, era uma segunda vítima do filho do PR

(Maputo) Carlitos Rachid apontou ontem o dedo ao filho do Presidente Joaquim Chissano, Nyimpine, como tendo sido o mandante do crime que vitimou CC. Ele é o terceiro réu a envolver Nyimpine Chissano no caso, depois de Manuel Escurinho e de Momad Assif. Rachid foi mais longe ao revelar ter testemunhado três encontros entre o filho do presidente Chissano e Anibalzinho, num dos quais Nyimpine teria pago a quantia de 100 milhões de Meticais a Anibalzinho, valor alegadamente destinado à preparação do crime.

Tratou-se da primeira referência directa em Tribunal sobre alegados encontros entre Nyimpine Chissano e Anibalzinho. Rachid disse que foi contactado por Anibalzinho, no mês de Julho de 2000, para a operação CC. Segundo Rachid, nesse e noutros contactos imediatamente posteriores, Anibalzinho mostrava-se relutante em revelar-lhe os ganhos da operação. "Foi então que falei com o Miguel Chamusse. Ele disse-me que a minha participação seria compensada com uma casa tipo 3 e o valor de 750 milhões de Meticais. E aí pagaram-me 1 200 contos, que eu usei para pagar três meses de renda da casa onde vivia".

Esta compensação tinha sido estabelecida não só pela cabeça de CC como também pela de Pedro Bule, antigo DG das Alfândegas, actualmente ligado à Emose. Ou seja, Bule era alegadamente uma segunda vítima do filho do PR. De acordo com Rachid, Pedro Bule era o primeiro da lista. "Andamos atrás dele durante uns 15 dias, a ver onde ele andava, mas depois morreu-lhe o filho. E desistimos. Decidimos colocar atenção em CC. Deram-me 1 milhão de Meticais para passar a comprar o jornal Metical, isto por volta de Setembro".

Rachid disse que depois de Chamusse o informar que a encomenda era de Nyimpine, ele teve a oportunidade de confirmar isso três vezes. A primeira foi antes do crime. "O Anibalzinho telefonou para ele e decidiram encontrar-se por detrás do cinema Xenon, na zona do Miradouro. Nesse dia eu tive de ficar dentro do carro porque o Anibalzinho dissera-me que a ideia era contratar sul africanos para cometer o crime. O Nyimpine vinha num Mercedes Benz com matrícula sul africana. Eles falaram um pouco e o Anibalzinho voltou para o carro com um saco contendo 100 milhões de Meticais. Eu vi o Nyimpine com os meus olhos. Ele estava de fato e careca".

Desse embrulho, Rachid disse ter recebido 20 milhões de Mts. "O Anibalzinho disse que o patrão tinha dado aquele dinheiro mas não estava na conta". De acordo com este réu, as outras duas vezes que ele testemunhou encontros entre Anibalzinho e Nyimpine foi depois do crime. Uma delas entre Janeiro e Fevereiro de 2001. "Eu queria dinheiro e o Anibalzinho foi outra vez ter com o Nyimpine. Mas este pediu para esperar, tinha alguns problemas, estava preocupado com a mãe que estava no Brasil". Esta referência (alegadas dificuldades de Nyimpine por ter a mão doente no Brasil) também foi feita por Nini, poucos minutos antes, para justificar o facto de não ter cobrado a totalidade do dinheiro que tinha alegadamente a receber do filho do PR.
(M.M.)

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Rachid acusa mãe de Anibalzinho
O Ministério Público pode agora abrir um processo contra Terezinha

(Maputo) O autor confesso dos disparos que assassinaram o jornalista Carlos Cardoso lançou ontem fortes acusações à senhora Terezinha Mendonça, mãe do réu fugitivo, Anibalzinho. Carlitos Rachid acusou Terezinha de ter tido conhecimento da operação de assassinato de CC e de o ter incentivado (a ele Rachid) a fugir, isto logo que Anibalzinho foi detido. "Dona Terezinha telefonou para mim a dizer para eu fugir. Entregou 500 mil Meticais à minha mulher para eu fugir mas esse dinheiro era pouco para eu fugir".

Estas acusações foram feitas depois de na semana passada Terezinha Mendonça ter declarado à comunicação social que o seu filho não tinha relações Nyimpine Chissano e que quem tinha orquestrado a fuga de Anibalzinho da cadeia eram os irmãos Satar e Vicente Ramaya.

Segundo Rachid, a mãe de Anibalzinho conhece todo o segredo do filho.

"Ela sabia da morte de CC. Ela sabia da operação, até porque no dia em que eu e o Anibalzinho fomos buscar a arma na garagem da casa dela, ela estava na varanda e viu os nossos movimentos". E acrescentou: "Dona Terezinha é contabilista de Anibalzinho; é ela que controla todo o dinheiro do crime de Anibalzinho".

Foi quando Rachid lançava estas farpas à dona Terezinha que o juiz perguntou sobre a arma do crime. Rachid respondeu peremptoriamente que a arma estava numa casa no Bairro do Jardim, pertencente a parentes de Anibalzinho. "As duas armas estão no quintal dessa casa. Se quiserem podem encontrar. A dona Terezinha sabe disso".

O réu parecia estar decidido a incriminar a senhora que, sentada num banco traseiro do Tribunal limitava-se a esboçar um sorriso trocista à medida que a plateia ia-lhe crivando com olhares de curiosidade e estupefacção e quase desaprovo. Mas o depoimento arrasador não parava. "Quando fico detido, comecei a abanar o Anibalzinho aqui na BO. E a Teresinha escreveu uma carta a dizer-me para ficar calmo. Disse que não era preciso implicar o Nyimpine porque o dinheiro já tinha sido pago a ela e que iríamos receber a qualquer momento".

Ele acrescentou que Teresinha conseguiu introduzir telefones na cadeia para Anibalzinho e descreveu a lista de bens que o réu fugitivo comprou com base no dinheiro do crime. O mediaFAX recebeu um parecer jurídico dando conta que as declarações de Carlitos Rachid são suficiente para que o Ministério Público abra um processo contra a senhora.
(M.M.)

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Renamo quer Nyimpine sob prisão preventiva

(Maputo) A Renamo manifesta apreensão quanto àquilo que designa de diferenciação no tratamento dos suspeitos no envolvimento na morte do jornalista CC, referindo-se mais concretamente a Nyimpine Chissano, que ao longo das audiências tem vindo a ser citado pelos réus como o mandante do crime.

"Para a Renamo é chegado o momento para que Nyimpine seja preventivamente detido, tomando em conta as declarações dos réus", disse ao mediaFAX o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga.

"Aliás, mesmo os que actualmente estão a responder como réus ficaram detidos a partir de denúncias idênticas", defende Mazanga. Segundo ele, "caso fosse um Sitoi qualquer ou outro que não Chissano, certamente que já estaria nas grades".
(J.C.)

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Moçambique on-line - 2002

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