Moçambique on-line

mediaFAX de 28 de Novembro 2002

1. Tentando cortar o nexo
2. Ramaya insiste nas "outras fraudes"
3. Alegada arma do crime não foi reconhecida
4. Advogado da família Chissano em Maputo
5. Tribunal notifica Teresinha Mendonça
6. Recordando os cheques do Casino do Polana


Caso Carlos Cardoso
Tentando cortar o nexo
A estratégia de Vicente Ramaya consiste em espalhar outras possíveis motivações do crime

(Maputo) Vicente Ramaya deixou ontem clara a sua estratégia de defesa no caso do assassinato do jornalista Carlos Cardoso. Ela consiste em cortar o nexo do crime com aquela que é sua motivação tal como consta no despacho de pronúncia: a fraude dos 14 milhões de USD ao Banco Comercial de Moçambique, descoberta em 1996. Foi por causa das suas investigações a esta fraude que CC foi assassinado, reza a acusação. Ontem, a fraude ao BCM acabou por dominar o interrogatório, e todas as partes entenderam que tinha de ser assim dado a motivação do crime.

Mas Ramaya tentou mostrar que a fraude ao BCM nunca podia ser a motivação, alegando que o banco sofrera em 1996 e nos anos seguintes outras fraudes. Nos círculos que acompanham de perto o processo, esta estratégia está a ser vista como "o espalhar da confusão", embora Ramaya tenha revelado categoricamente dispor de "provas" da existência de outras fraudes e do alegado envolvimento de membros do CA e da Direcção Executiva do banco.

No essencial da sua estratégia, um argumento aliás já sobejamente conhecido do público, o caso BCM não podia ter sido a motivação do assassinato de CC. Ramaya recordou que o despacho de pronúncia do caso já tinha sido feito há meses e que o sumo da fraude era do conhecimento público, não havendo novas revelações por via de CC que o pudessem incomodar.

A acusação toma como fundamental um artigo do jornalista, intitulado "Notas Biográficas do Primeiro Cheque da Fraude", de 12.05.2000, em que CC traça aquilo que chamou de "a lógica do resto da fraude". Ou seja, através da descrição de todo o percurso desse cheque, o leitor fica iluminado sobre como a fraude se deu.

Ramaya contra-argumentou que esse artigo correspondia a "uma certa versão", e que havia outra, a dele, pelo que o artigo e outras abordagens de CC não o incomodavam. "Aquela era uma versão que queriam impor e que estava distorcida", disse ele, acrescentando que "não acredito que houvesse um jornalista moçambicano que tivesse investigado a fraude". No texto, CC destaca as responsabilidades de Ramaya na concretização da fraude, designadamente através da disponibilização de valores a partir de cheques sem cobertura.

Na sequência do artigo, Ramaya fez publicar no Metical, a 16.05.2000, uma reacção onde tenta "esclarecer ao público a real versão dos factos". Nessa reacção, Ramaya oferece-se para um debate público, mas o debate nunca aconteceu. Este facto - o de não ter havido esse debate em que CC seria o moderador - desponta agora como um mistério, dado que a pessoa que provavelmente nos esclareceria sobre isso é o próprio CC. Ramaya avançou a sua versão das razões que terão impedido a realização do debate: "Eventualmente, os administradores do BCM sabiam que eu tinha muita informação e tiveram o receio de travar o debate publicamente".

Há uma leitura dos factos que defende que os textos de CC podiam não ser o espelho da verdade sobre a fraude, mas eram os mais rigorosos e isentos, e representavam mesmo o início de uma abordagem que eventualmente levaria ao cerne da questão. Ramaya, sempre a enfatizar que a investigação jornalística da fraude nunca o incomodou, recordou que, por essa altura de meados de 2000, "eu já estava acusado, tanto pelo Ministério Público como pela acusação particular, por abuso de confiança e burla por defraudação".

Por isso, acrescentou, "os artigos de CC não me preocupavam. Talvez preocupava mais aos que beneficiaram do dinheiro da fraude". E voltou a referir-se às alegadas sucessivas burlas de que o banco tenha sido alvo, lançando assim aquele que parece ter sido o seu grande objectivo: eventualmente, CC talvez pudesse ter na mira as tais outras fraudes ao BCM.
(M.M.)

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Ramaya insiste nas "outras fraudes"
"A fraude podia ter sido detectada ao fim de 45 dias"

(Maputo) A primeira tentativa de apresentação de prova, ontem, não resultou. O Ministério Público apresentou uma arma AKM, com um carregador e 19 munições, na esperança de que o atirador Carlitos e o seu companheiro Manuel Escurinho reconhecessem essa arma como tendo sido a arma do crime. Carlitos Rachid, que confessou ter assassinado CC por dinheiro (e acrescentou que se tivesse recebido o prometido provavelmente não estaria neste momento a ser julgado) declarou que a arma do crime não era aquela. "A arma que eu utilizei não tinha coronha", disse, falando vivamente e muito à-vontade.

Ele também não reconheceu a sacola onde a arma foi transportada no dia do crime. "Era uma sacola militar", disse. O seu companheiro do crime, Escurinho, também declarou não reconhecer a arma, nem a pasta. Os dois réus entraram no tribunal a sorrir e com os olhos vermelhos. Escurinho sorria mais, causando murmúrios de desaprovo na assistência. Ambos pareciam drogados e sob efeito de álcool, o que tirou alguma seriedade às suas declarações de ontem. Carlitos Rachid tentava exibir um ar de quase arrependido, talvez a tentar debitar atenuantes quando, de acordo com o que apurámos, o crime não as admite. Parece certo que Carlitos vai apanhar a maior pena estabelecida na lei moçambicana para homicidas confessos.
(da redacção)

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Alegada arma do crime não foi reconhecida
Réus sob efeito de drogas e álcool?

(Maputo) A primeira tentativa de apresentação de prova, ontem, não resultou. O Ministério Público apresentou uma arma AKM, com um carregador e 19 munições, na esperança de que o atirador Carlitos e o seu companheiro Manuel Escurinho reconhecessem essa arma como tendo sido a arma do crime. Carlitos Rachid, que confessou ter assassinado CC por dinheiro (e acrescentou que se tivesse recebido o prometido provavelmente não estaria neste momento a ser julgado) declarou que a arma do crime não era aquela. "A arma que eu utilizei não tinha coronha", disse, falando vivamente e muito à-vontade.

Ele também não reconheceu a sacola onde a arma foi transportada no dia do crime. "Era uma sacola militar", disse. O seu companheiro do crime, Escurinho, também declarou não reconhecer a arma, nem a pasta. Os dois réus entraram no tribunal a sorrir e com os olhos vermelhos. Escurinho sorria mais, causando murmúrios de desaprovo na assistência. Ambos pareciam drogados e sob efeito de álcool, o que tirou alguma seriedade às suas declarações de ontem. Carlitos Rachid tentava exibir um ar de quase arrependido, talvez a tentar debitar atenuantes quando, de acordo com o que apurámos, o crime não as admite. Parece certo que Carlitos vai apanhar a maior pena estabelecida na lei moçambicana para homicidas confessos.
(da redacção)

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Advogado da família Chissano em Maputo

(Maputo) O advogado português Macedo Pinto, ex-Cônsul Honorário de Moçambique no Porto, Portugal, desembarcou há dias na capital moçambicana, não se sabendo ao certo os motivos da sua deslocação a este país. Macedo Pinto, que é originário da cidade de Tete e que sempre manteve laços de amizade com e em Moçambique, tem representando, nos últimos tempos, os interesses da família do presidente Joaquim Chissano.

Nos últimos meses são conhecidas as suas intervenções públicas em defesa de Nyimpine Chissano e da Primeira Dama, Marcelina. Dado que os nomes destas duas figuras foram mencionadas, no julgamento do caso Carlos Cardoso, como podendo estar implicadas no assassinato do jornalista, crê-se que a sua vinda tem a ver com este motivo e, sobretudo, com a existência de um processo-crime contra Nyimpine Chissano na sequência das recentes revelações do réu Nini.
(da redacção)

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Tribunal notifica Teresinha Mendonça

(Maputo) O Tribunal que julga o caso Carlos Cardoso mandou notificar ontem a mãe de Anibalzinho, Teresinha Mendonça, na sequência das declarações que ela proferiu à TVM, revelando ter provas do envolvimento de Nini no assassinato de CC e na fuga de seu filho da prisão. Na entrevista à televisão pública, Teresinha alegava que a Nyimpine Chissano não tinha nada a ver com o crime e que o seu filho Anibalzinho não tinha quaisquer relações com o filho do PR. Ontem, o Ministério Público requereu a audição da gravação da peça onde Teresinha é entrevistada, no sentido de o tribunal determinar se, em função disso, Teresinha podia ser ouvida em declarações neste julgamento.

Depois de alguma contrariedade da defesa, especificamente dos advogados de Nini (Eduardo Jorge) e de Anibalzinho (Simeão Cuamba), o juiz Paulino determinou a audição, após o que aceitou o requerimento do MP no sentido de Teresinha ser notificada. A mãe de Anibalzinho deverá ser ouvida em declarações e será solicitada a apresentar as provas que disse possuir.
(da redacção)

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Recordando os cheques do Casino do Polana

(Maputo) São oito os cheques cujas cópias estão em poder do mediaFAX, passados pelo Casino do Hotel Polana a favor de Ayob Abdul Satar. No artigo do mediaFAX nr. 2490 (22/03/02), com o título, "Patrão de Dudu procurado", os cheques foram assinados por Guery Roup, então gerente (na altura do artigo estava em parte desconhecida) e por Philip Nevitt, director financeiro do casino.

Os 8 cheques são do Banco Austral e com os seguintes valores faciais: 2 no valor de 814 milhões de meticais cada; 4 de 725 milhões de meticais cada, e 2 com o valor de 840 milhões de meticais por cheque. O mediaFAX revelara que, depois da detenção dos Satar, Roup havia abandonado o país, mas que sempre que os membros da família Satar se dirigissem ao Casino para cobrar os cheques, Nevitt recusava-se a pagar, prometendo fazê-lo logo que os detidos fossem soltos.

Após o artigo atrás aludido, Nevitt contactou o mediaFAX para prestar esclarecimentos onde, conforme a edição do mediaFAX nr. 2493 (27/03/02), com o título, "Afinal Nevitt está em Maputo", confirmou a autenticidade dos cheques (pré-datados) e esclareceu que, na altura da efectivação da dívida, o casino estava a braços com problemas financeiros.
(J.C.)

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Moçambique on-line - 2002

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