Moçambique on-line

mediaFAX de 29 de Novembro 2002

1. A operação contra CC na versão de Nini
2. Tribunal notifica Nyimpine Chissano


Caso Carlos Cardoso
A operação contra CC na versão de Nini
Antigo director da PIC, António Frangoulis, revela conversas com Nini onde se incrimina Nyimpine Chissano, Cândida Cossa e Apolinário Pateguana (Nanaio)

(Maputo) O antigo director da PIC, António Frangoulis, ouvido ontem em declarações no julgamento do caso Carlos Cardoso, revelou pormenores das conversas que manteve com o réu Nini durante as fases do processo e no primeiro dia deste julgamento, a 18 de Novembro, ou seja, na semana passada.

Frangoulis foi o investigador do processo até meados de 2001, quando foi enviado para África do Sul, alegadamente para aperfeiçoar o seu domínio do inglês. Na sua tentativa de compreender o caso, Frangoulis disse ter tido conversas com os réus Nini e Anibalzinho. "Nessas reuniões, o Nini sempre me falava das provas, mas nunca mas apresentava. Falou-me de ter uma cassete vídeo com as imagens das reuniões, mas tinha o receio de apresentar pois implicavam-no directamente enquanto autor moral". Frangoulis revelou o teor de uma conversa que travou com Nini, onde este réu lhe terá descrito como foi concebida a operação contra CC, nomeando as pessoas envolvidas nela. Frangoulis disse não ter gravado essa conversa, mas retirou as notas do essencial.

"Nini sempre disse que tinha sido interveniente no crime, pelo simples facto de ter sido o pagador. Foi um pagador post-morten, isto é, depois do assassinato de CC. Ele havia dito anteriormente que tinha sido intermediário. Agora pretendia alterar essa ideia. Ele disse-me que as reuniões foram em casa da Cândida Cossa, por volta de Junho/Julho do ano 2000. O primeiro era o Pedro Bule.

(NE: Esta informação coincide com os dados prestados pelo réu Carlitos relativamente às datas em que começam os preparativos da operação).

Por essa altura, Cândida vai ter com Nini para lhe dar conta dos contactos que Nyimpine tinha tido com Anibalzinho, directamente. Nas reuniões de Julho/Junho em casa de Cândida Cossa participaram, para além de Nini e Cândida, Nanaio e Nyimpine.

(NE: Nanaio, é diminutivo de Apolinário Pateguana, amigo dos filhos de Chissano, filho do antigo governador de Inhambane, Francisco Pateguana). Nestas reuniões falou-se num pagamento de 200 mil USD.

Pedro Bule devia ser abatido na África do Sul, em Santdon, entre os dias 5 e 7 de Novembro de 2000, mas como morreu o filho dele, os planos ficaram comprometidos.

Por isso decidiu-se virar as atenções para CC, e havia instruções de Cândida Cossa nesse sentido. O valor a pagar pelo crime era de 1 milhão de randes, senão mesmo 2 milhões. Mas também o Nyimpine e o Octávio Muthemba estavam interessados na morte de Mugathan, o antigo Director Executivo do Banco Austral (de nacionalidade malaia).

A ideia era que os executores do crime seriam os soldados de Anibalzinho. Havia informações de que Pedro Bule iria permanecer na África do Sul durante cinco dias. Nessa altura havia contactos permanentes entre Rui H. E Anibalzinho. Rui H. era um dos homens de Anibalzinho na RAS. As ordens para matar CC foram dadas em Setembro. CC publicou um artigo sobre o prédio dos chineses, na Mártires da Machava, em Setembro, e isso enfureceu Nyimpine.

(NE: salvo a nossa consulta ter sido menos rigorosa, CC não escreveu nenhum artigo sobre este assunto em Setembro de 2000. Nesse mês ele estava de férias na Europa. No caso de a referência ao "prédio dos chineses" ser verdadeira, trata-se de o Metical ter estado a investigar o destino que iria ser dado ao prédio onde funcionava a antiga Embaixada da China em Moçambique; havia a alegação de que eventualmente o edifício ficaria nas mãos da família Chissano e o Metical começou a seguir essa pista, mas a publicação da história, inconclusiva quanto ao interesse da família presidencial, foi muito depois do assassinato de CC.

Em Setembro, provavelmente, o Metical apenas começara a seguir as pistas em função das alegações que tinha. Seja como for, se o assunto foi motivo de "revolta" então ele apenas representou a gota de água que fez transbordar o copo, dado que no Metical foi sempre cultura editorial compreender o processo de acumulação e os interesses empresariais da família Chissano, os quais muitas vezes, na nossa opinião, colidiam com o interesse comum).

Daí para frente a ideia foi eliminar CC. Nyimpine iria pagar 2.000.100.000 Mts. E Aníbal vai ter com Nyimpine no prédio do Xenon (...) Em Dezembro de 2000, há uma nova reunião em casa da Cândida Cossa onde estão Nini, Anibalzinho e Nyimpine. Esta reunião foi no quarto porque na sala da casa estavam os filhos da Cândida. Foi nessa reunião que Anibalzinho abriu o jogo e disse que o trabalho tinha sido feito com moçambicanos. Nyimpine não gostou desta informação e entrega a Anibalzinho 45 mil USD para eliminar os executores do crime (leia-se Carlitos Rachid e Manuel Escurinho). Esta reunião foi a 28 de Novembro de 2000".

A leitura destas notas aconteceu depois de muita insistência da parte do juiz. Frangoulis disse que só as leria no caso de Nini recusar-se a confirmar o seu teor, ou se Nini contasse uma versão diferente do que a que abordaram nas tais conversas. O juiz retorquiu que, a bem da produção da prova, Frangoulis tinha, como polícia que é, a "obrigação profissional e moral" de ler a notas. Frangoulis continuou a recusar no fundamento de que ele estaria a incorrer num acto de difamação. O juiz virou-se então para Nini, pedindo para que fosse ele a revelar o teor das conversas; Nini alegou que já tinha dito ao Tribunal tudo o que era para dizer. Foi então que, após nova insistência, Frangoulis leu as notas.
(Marcelo Mosse)

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Tribunal notifica Nyimpine Chissano
Ele vai ser ouvido como declarante, unicamente para ajudar o processo de produção de prova; para este processo ele não é suspeito

(Maputo) O Tribunal que julga o caso Carlos Cardoso mandou notificar Nyimpine Chissano, o filho do Presidente da República, para ser ouvido como declarante no julgamento do caso. A notificação surge na sequência de um pedido feito pelo procurador Mourão Baluce, que representa o Ministério Público.

Baluce argumentou que durante o julgamento o nome de Nyimpine Chissano foi por diversas vezes mencionado como tendo sido um dos mandantes do crime. O réu Nini apresentou mesmo como provas da sua inocência cheques alegadamente passados por Nyimpine, e que justificariam os seus pagamentos a Anibalzinho, um dos cérebros da operação que vitimou CC.

Sabe-se que contra Nyimpine Chissano existe já um processo-crime, com o número 188-2002, onde vai ser ouvido como suspeito, a par de Octávio Muthemba, antigo PCA do Banco Austral.
(da redacção)

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Moçambique on-line - 2002

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