Moçambique on-line

metical nº 1073 de 17 de Setembro de 2001


O nosso colaborador Joseph Hanlon, a pedido do metical, transformou um estudo que fez recentemente sobre Bancos em Moçambique, numa série de artigos que passamos a publicar a partir de hoje.
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Matando a galinha dos ovos de ouro

Mais de 400 milhões de dólares desapareceram do sistema bancário na década de 90 em Moçambique. Carlos Cardoso e António Siba-Siba Macuácua foram provavelmente assassinados para impedir a verdade sobre isto e sobre a maneira como os roubos foram efectuados.

Todos os países usam os bancos para fins políticos. Em Moçambique, os bancos foram usados para construir o socialismo, para manter o país a funcionar durante a guerra e depois, na nova era capitalista, para promover empresários locais e manter a economia livre de mãos estrangeiras.

Porém, banqueiros e homens de negócios, nacionais e estrangeiros, apropriaram-se simplesmente de muito dinheiro e foram muitas as mãos que foram ao saco.

Talvez haja uma diferença entre roubar dinheiro e promover uma nova elite. Mas os que mataram Cardoso e Siba-Siba tinham perfeitamente a noção de que nunca poderiam tirar dinheiro e justificá-lo publicamente - e que tinha sido tirado dinheiro suficiente para justificar duas mortes pelo menos.

Talvez tenham conseguido garantir que os pormenores nunca venham a ser conhecidos. Mas isso faz com que ainda seja mais importante passar em revista aquilo que se sabe e colocá-lo em contexto. Este estudo baseia-se em entrevistas com banqueiros e pessoas que conhecem o cenário da banca moçambicana mas que deixaram de estar envolvidos quer com o BCM, quer com o Banco Austral. O Banco de Moçambique recusou falar connosco.

Numa série de 11 artigos tentaremos mostrar:

  • como a criação do sistema bancário criou condições para a fraude e a corrupção;
  • como a nova elite conseguiu pilhar a banca antes da privatização;
  • como o FMI e o Banco Mundial "de facto" levaram o governo a aceitar a corrupção;
  • como as privatizações tiveram um cunho político e envolveram famílias importantes e ligadas a altas entidades do partido e do Estado;
  • como as duas privatizações de bancos foram dúbias e usadas por moçambicanos e seus associados estrangeiros para roubar ainda mais.

Lamento ter de dividir este ensaio em pedaços curtos, mas no final as 11 partes terão coberto o seguinte:

  1. Banca socialista
  2. A era pós-Samora
  3. Privatização forçada dos bancos estatais
  4. Privatização do BCM
  5. Privatização do BPD
  6. Colapso dos dois bancos
  7. Quem ia ficar com o Banco Austral?
  8. Uso da contabilidade para roubar
  9. Lavagem de dinheiro
  10. Roubando de contas no estrangeiro
  11. Reflexões Finais

Não haverá revelações e poucas coisas são realmente novas. Mas juntando aquilo que já é conhecido, espero mostrar que a ganância crescente acabou por matar a galinha dos ovos de ouro. Ao fim e ao cabo a elite política perdeu o controlo dos bancos. E em vez de ter servido para reforçar o poder económico dos moçambicanos, o resultado foi o controlo estrangeiro sobre a banca moçambicana.
(Joseph Hanlon)

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