Moçambique on-line

Savana de 9 de Augosto de 2002


Nos meandros da família de António Siba Siba
Aquina entre a esperança e o desespero

Todos os dias ao amanhecer, quando Aquina Manjate olha para o Walter e a Jessica com os olhos em pranto a dor desfere-lhe o coração. O quadro à volta está incompleto. Nunca voltará a estar completo. O quadro era da cor da alegria, Siba Siba Macuacua tinha uma linda família. Agora o tédio traçou-lhe um fundo de tristeza como um mar de lágrimas. Aquina passa os dias recordando o afecto do marido. Em casa, o Walter e a Jessica ainda brincam como quaisquer meninos, mas perderam para sempre o seu orgulho. "Siba Siba era o orgulho da família", diz Aquina, a viúva.

Um ano depois, a mágoa permanece intacta. No dizer de Aquina, Siba Siba era "um pai afectuoso, um excelente marido".

Uma das suas apostas, projecto de vida mesmo, era educar as crianças. Todos os dias ensinava as contas ao Walter. Quando o trabalho consumia muito do seu tempo diário, o economista assassinado reservava os fins de semana para a vida social.

Siba Siba era um jovem exemplar, nado e vivido num ambiente conservador. Órfão de pai, foi educado pela mãe e pelos tios, mas da orfandade bebeu o valor da paternidade, aplicando-se na alegria dos filhos. Ele era valores morais, bom trato social, amor à família, honestidade acima de tudo e trabalho, muito trabalho.

Na véspera do crime macabro, Siba Siba sabia que o trabalho que o Estado lhe confiara era delicado, dizia-o na família, mas nunca imaginou que o mesmo lhe pudesse custar a vida. Pelo menos nunca transmitiu tais sinais à família.

O quadro à volta de Aquina, que comemoraria 10 anos de casada em Setembro, continua desolador, mas entre o negro dominador há um brilho de esperança. A esperança, que morre sempre atrasada quando morre, de um dia a família e os moçambicanos serem informados do que realmente aconteceu. Aquina recorda-se das promessas do Presidente da República e do Ministro do Interior de tudo fazerem para encontrarem os criminosos. E ela continua a espera, continua a acreditar que a justiça será feita.

"Será um gesto nobre se o Presidente e o Ministro serem escravos das suas palavras", afirma Aquina.

Desde o dia 11 de Agosto de 2001, Aquina Manjate foi duas vezes recebida, a seu pedido, pelo Ministro do Interior, a respeito do caso. Tudo o que Manhenje lhe disse nos dois encontros foi que estava a investigar e que a qualquer momento teria informação relevante a dar. Isso alimenta a esperança de Aquina.

Do Banco de Moçambique, a mulher de Siba Siba sente todo o apoio material, mas há um fundo de desamparo nas entrelinhas da sua voz. Sim, após o assassinato do marido a solidariedade de classe irrompeu tal vulcão, mas foi-se desvanescendo. Nos corredores privados há várias palmadas nas costas, mas no espaço público elas desapareceram.

Do Banco de Moçambique, Aquina espera mais apoio ao nível das "investigações". Ela espera que o BM indique um jurista para dar atenção especial ao caso e ajudá-la nos encontros com o Ministro do Interior ("para ajudar-me a contra-argumentar"). O seu apelo crucial é que a justiça funcione, não só no caso do marido, como nos inúmeros assassinatos de gente anónima que acontecem no país.

M.M.

[a seguir: Porque é que o BM não nomeia um assistente?]
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Savana - 2002


Moçambique on-line - 2002

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